quarta-feira, maio 24, 2006

Cumplicidades Urbanas


Comprei as flores semanais ao velhote da esquina, flores campestres coloridas, um molho grande e andei com o volume toda a tarde, emprego, metro, instituto, rua, novamente metro, comboio, rua.... azáfama, má disposição, gente, desejo de tudo passar rápido para me afogar na fortaleza do lar e me entregar ao fim-de-semana.

Mala, pasta, saco com bolos para os velhotes, a marmita do almoço e o volume das flores que agora me parecia gigante.

Apetece empurrar as pessoas como se fossem culpadas pelo carrego e pelo cansanço, parece que se odeia tudo e todos e a nós mesmos, queremos chegar a casa.... não gosto de sentir isto mas de facto sinto-o muitas vezes.

Mas nesse final de dia bastou um segundo para que tudo mudasse, cruzei-me com uma mulher negra linda, que também trazia um molho grande de flores, cravos vermelhos que constratavam com a sua pele e lhe ficavam bem... essa mulher sorriu-me e eu retribui.

Foi mágico... adoro estes momentos rápidos e lindos que acontecem num ápice e nos fazem alterar o estado de espírito, cheguei a casa às 22h mas muito mais feliz e descontraída.

As cumplicidades citadino-urbanas fazem-nos bem, será que toda a gente as tem?

3 comentários:

Anónimo disse...

O metro é uma experiência muito rica em termos de conhecimento humano, a diversidade das gentes fascinam-me e obrigam-me a observar.

Um raio de sol disse...

No outro dia saí do trabalho à 13.00h. Stressada a pensar, que o tempo nunca chega. Ter que dar atenção aos gatos, tirar os sapatos, aquecer a comida e libertar-me da vida, do trabalho... Para logo depois me embrenhar na tristeza de pensar no que ainda falta por fazer, na tarde de trabalho pela frente, comer e sair a correr... Coloquei a chave na porta e vi o meu correio. Então entrou a rapariga do r/c, com quem quase não falo a não ser bom dia, boa tarde e boa noite. E ela comprimentou-me, sorriu para mim e surpreendentemente perguntou se estava tudo bem comigo. Eu senti-me o ser mais feliz do mundo. Alguém sabe que eu existo! E pergunta-me sobre mim, desinteressadamente. Eu existo! Não sou apenas uma mancha na multidão às procura das horas e do caminho de casa. E a minha vizinha sabe-o...

Anónimo disse...

por acaso sim... sabe muito bem, quando parece existir uma cumplicidade, uma simpatia entre pessoas que sao estranhas...

Faz-nos sentir que existimos, que fazemos parte de algo, que apesar de tudo n somos meramente um ser desconhecido para o mundo...um ser invisivel e que so vive no seu proprio meio...